Viver no Alentejo: Entre o Sonho e o Desafio
Durante anos descrevi o Alentejo com a doçura que ele merece: os filhos a correrem livres no quintal, as idas à horta apanhar fruta fresca pela manhã, ou o silêncio que nos embala no final do dia. E tudo isso continua a aqui— é real, é bonito e é nosso.
Porém, a leveza dos dias deixou de ser suficiente para esconder as dificuldades que crescem à medida que os filhos também crescem. Aqui, no Alentejo, interior e rural, quando os nossos filhos concluem o 9.º ano, a escola mais próxima é noutro concelho, implica acordar um pouco antes das 6h e um regresso a casa por volta das 19h, a deslocação é feita em autocarros, com horários pouco pensados nos estudantes.
Nós, pais, vivemos inconformados e sem respostas. Cada um, nos seus recursos, pensa: como posso ajudar? como posso equilibrar para que os meus filhos tenham as mesmas oportunidades de qualquer outro jovem noutra parte do país? Sendo que tempos de estudo, para praticar desporto e para descanso... só nos parece uma miragem. Escuto jovens que contam acordar às 3h para poderem estudar, aqueles que sonham mesmo muito. Outros, encolhem os ombros e dizem: "nem vale a pena, nunca vou conseguir chegar onde sonhava".
Viver aqui é um ato de resistência. É amar a terra, mas também sentir que ela nos devolve pouco, ou pelo menos, menos do que gostaríamos. É viver entre a tranquilidade e o isolamento. É educar entre a natureza e a falta de recursos. Hoje, continuo a acreditar na beleza do Alentejo. Mas a alegria dos filhos no quintal já não chega. É preciso que olhem para nós. Que pensem em políticas para nós. Precisamos de médicos, escolas próximas, transportes dignos. Porque esta terra merece mais. E os nossos filhos também.